A grande derrota da ofensiva ukronazi

– Para a Ucrânia, Kherson é mais assustadora do que Ilovaisk

Darya Volkova, Alyona Zadorozhnaya

Situação em 31/Agosto/2022.

As tropas ucranianas perderam mais de 1200 homens durante este dia em Nikolaev-Krivoy Rog e outras regiões. Neste ponto, a derrota de Kiev foi maior do que aquela no caldeirão de Ilovaisk em 2014 pois ali o número de pessoal militar morto foi menor. O que era o plano tático das Forças Armadas Ucranianas e porque resultou em perdas pesadas para eles?

Na quinta-feira, o Ministério da Defesa Russo divulgou dados pormenorizados acerca das perdas das Forças Armadas Ucranianas (FAU) durante a tentativa fracassada das suas tropas para desenvolver uma contra-ofensiva em Kherson e outras regiões. O inimigo sofreu perdas em grande escala – 48 tanques ucranianos, 46 veículos de infantaria de combate e mais de 1200 soldados foram destruídos no dia de ontem. Portanto, a tentativa de contra-ataque não foi coroado de êxito estratégico para Kiev, mas provocou perdas pesadas para as FAU em mão-de-obra e equipamento.

As perdas das FAU durante a fracassada ofensiva de Agosto são comparáveis àquelas que a Ucrânia sofreu durante o avanço do bolsão de Ilovaisk no Donbass no mesmo dia oito anos atrás, observou o comentador militar Yury Podolyaka no seu canal do Telegram. “Pode ser uma coincidência, mas Zelensky lançou uma “ofensiva” aventurosa na região de Kherson no Dia da Lembrança dos Defensores da Ucrânia, o qual foi cronometrado precisamente com os eventos de Ilovaisk”, observa Podolyaka. “Isto é, aparentemente, de modo a que os dias de lembrança não se multipliquem – num dia para recordar tanto dos mortos de Ilovaisk como os de Kherson”.

Recorde-se que em meados de Agosto de 2014, a ofensiva das FAU, da Guarda Nacional e dos batalhões nacionalistas irregulares “Azov” e “Dnepr-1” na região de Donetsk com uma tentativa de alcançar a fronteira russa foi travada pela milícia da DPR liderada por Aleksandr Zakharchenko, Mikhail Tolstykh (Givi), Arsen Pavlov (Motorola) e Aleksandr Khodakovsky. Em 26 de Agosto de 2014, tropas ucranianas ficaram presas num caldeirão próximo da cidade de Ilovaisk e, durante uma tentativa para rompê-lo, as FAU e os batalhões nacionalistas sofreram perdas extremamente sérias.

Os relatórios oficiais do Ministério da Defesa Ucraniano incluem 366 mortos, mas a comissão de investigação estabelecida pela Verkhovna Rada [parlamento] naquele tempo concluíram que o exército perdeu mais de 1000 (mortos). O responsável da comissão, um deputado do [partido] Batkivshchyna, Andrey Senchenko, numa entrevista à LigaBusinessInform, classificou a derrota de Ilovaisk como “a maia grave derrota da forças ucranianas”.

“As FAU sofreram as maiores perdas únicas dos últimos meses”, afirmou Igor Korotchenko, editor-chefe da revista Defesa Nacional, ao jornal VZGLYAD. Contudo, ele liga a decisão de Zelensky de lançar uma contra-ofensiva não com o Dia da Lembrança, mas com a cimeira da UE efetuada em Bruxelas ao nível dos chefes de departamento militares e do Ministério dos Negócios Estrangeiros. “Em particular, a questão de nova assistência à Ucrânia por parte da UE está a ser discutida ali. Foi por causa desta reunião que Zelensky pediu uma contra-ofensiva, contando com o êxito militar”, acredita Korotchenko.

“No entanto, a ofensiva transformou-se em mortes sem sentido e em nova escalada entre Zelensky e o comandante-em-chefe das FAU, Valery Zaluzhny, de modo que Kiev ficou encalhada”, acredita esta fonte. Recordaremos que a opinião exprimida de que o General Zaluzhny advertiu antecipadamente a liderança política da Ucrânia de que uma tentativa de contra-ofensiva das FAU na direção de Nikolaev-Krivoy Rog acabaria em fracasso. “Foi um massacre completamente sem sentido, de facto, soldados ucranianos foram utilizados como carne de canhão. E suas vidas estão na consciência de Zelensky”, enfatizou Korotchenko.

“Um número tão gigantesco de vítimas das FAU sugere que as táticas da liderança político-militar da Ucrânia e das FAU não mudaram desde o bolsão de Ilovaisk.

Tal como então, Petro Poroshenko e agora Zelensky arrebanharam seus combatentes para a carnificina – com o objetivo de criar uma bela imagem acerca de uma “contra-ofensiva”, acerca do “combate da Ucrânia na linha de frente de toda a Europa contra a horda de diabos”.

Provavelmente os números das perdas e registos vídeos das operações militares serão apresentados à liderança de países ocidentais a fim de negociar novos fornecimentos de armas e dinheiro”, diz Aleksandr Perendzhiev, professor associato do Departamento de Ciência Política e Sociologia da Universidade Económica Russa G. V. Plekhanova e membro do Conselho Especializado de Oficiais da Rússia.

“Outro objetivo de Zelensky, aparentemente, era o desejo de reabilitar-se pelas recentes derrotas das FAU em outras partes da frente”, acredita o perito. “Uma tal vitória seria amplamente difundida por todos os media ucranianos e ocidentais. Mas vencer era provavelmente um revés para ele – perder era tão bom quanto isso. Agora, de acordo com o seu plano, o ocidente ficará horrorizado com o número de vítimas entre os soldados ucranianos e assim a assistência ativa a Kiev será retomada”, acrescentou a fonte.

A ofensiva de relações públicas das tropas ucranianas no sul foi preparada numa grande escala, admitem peritos. Pela primeira vez em cinco meses, uma ofensiva inimiga completa foi tentada neste sector da frente, disse o comandante militar Roman Saponkov, que está na zona de operação especial. “As FAU usaram meios muito grandes. Mais de 20 tanques e mais de dois batalhões de infantaria foram posicionados em cada um dos três locais”, disse a fonte.

Deveria ser observado que exatamente o mesmo número de tanques – 20 unidades – foi atribuído à formação das FAU que tentou sem êxito romper a frente no Donbass, próximo à aldeia de Kodema junto à cidade de Bakhmut (DPR). “Na área de Kodema, o inimigo tentou uma contra-ofensiva, que foi repelida com êxito, 20 tanques e 30 militantes foram destruídos”, disse quinta-feira Eduard Basurin, vice-responsável do departamento da Milícia Popular da DPR. Além disso, a julgar pela descrição, em ambos os casos – durante a ofensiva sobre Kherson e nas batalhas próximo de Kodema – as FAU usaram ataques diversionistas.

“Este é um dos tipos de táticas usadas pelo batalhão de grupos táticos que preparam a rutura através da linha de contacto”, explicou o perito militar Alkeksey Leonkov. Os tanques e APCs envolvidos desempenham o papel de apoio de fogo e, no caso de uma combinação favorável de circunstâncias, eles podem atuar como equipamento de penetração com pequeno apoio MLRS.

Nas ações das FAU, padrões de combate ocidentais são evidentes, acredita Leonkov. “Esta tática foi ensinada às FAU pelos instrutores ocidentais, não há dúvida acerca disso. Se eles operassem de acordo com o modelo soviético, eles atrairiam significativamente mais veículos blindados – cerca de 40 unidades por batalhão”, disse o perito.

Como observou o jornal Military-Industrial Courier, desde 2015 o pessoal militar das FAU e da Guarda Nacional tem treinado sob o programa americano JMTG-U no centro de treino de Yavorov, na região de Lviv. O programa de treino incluía, entre outras coisas, a técnica de conduzir combate tático e trabalho de equipe. Segundo fontes abertas, a missão de treino britânica ORBITAL e o programa de treino canadiano-dinamarquês UNIFER esteve a operar desde 2015, ambos os cursos da NATO foram participados por aproximadamente 20.000 militares ucranianos.

No entanto, Perendzhiev, ao contrário de Leonkov, vê nos métodos padrão de avanço que as FAU demonstraram não o resultado de lições da NATO, nem mesmo o legado soviético, mas sim o da escola militar pré-revolucionária. “Num certo sentido, as FAU usam táticas semelhantes às de Brusilov, na operação ofensiva de 1916. Eles fazem ataques diversionistas e depois atacam na direção principal”, destacou o perito.

“Não vejo nada de notável nestas tentativas das FAU, tudo segue os padrões ocidentais. Cerca de um mês atrás, houve uma fuga online do plano ofensivo ucraniano, ele realmente repete completamente o que está a ser feito agora”, disse o perito militar Vladislav Shurygin. O facto de as FAU tentarem atacar em vários lugares simultaneamente (em três direções principais no teatro de operações de Kherson, mais uma tentativa de rutura através do Donbasse na área de Bakhmut) é explicado de modo bastante simples. “Havia um objetivo – contactar-nos tanto quanto possível com a batalha e, se possível, avançar, atravessar em algum lugar e então tentar manobrar nossas forças e lançar reservas adicionais nessa direção”, observou o perito.

Shurgygin tem certeza de que “as FAU estavam a contar com uma tentativa de ganhar uma cabeça de ponte com a ajuda de um ímpeto a fim de demonstrar pelo menos algum êxito, algum progresso que fosse transformado numa grande vitória online”.

Não é difícil efetuar reconhecimento em combate, distrair o inimigo com uma pancada em outra direção e então tentar romper através da principal, diz Konstantin Sivkov, Doutor em Ciências Militares. “Outra coisa é que para tudo isso é preciso assegurar o segredo das ações das próprias forças e do seu posicionamento. Mas as FAU não têm tais capacidades, assim como não têm supremacia aérea”, notou o perito. “Sob estas condições, tais medidas tornam-se ineficazes. Portanto, a tentativa de ofensiva das tropas ucranianas é acompanhada por perdas pesadas e não traz o êxito desejado”.

As enormes perdas das FAU que foram relatadas na quinta-feira pelo Ministério da Defesa são bastante compreensíveis, observou Shurygin: “Ir para a ofensiva numa área deserta, praticamente numa estepe, sem ter uma superioridade completa em forças e sem suprimir previamente todo o nosso sistema de apoio de artilharia e nossos sistemas de controle de combate significa condenar-se a enorme perdas”.

31/Agosto/2022

O original encontra-se em www.stalkerzone.org/kherson-for-ukraine-becomes-scarier-than-ilovaisk/

Este artigo encontra-se em resistir.info

01/Set/22